ARTIGO

O silêncio dos covardes gera violência doméstica 594r6r

Artigo escrito e publicado por João Filho - inspirado no texto Fabiana Stival | Advogada de Família 4h48f

Sempre acreditei que honestidade e fidelidade não precisam de publicidade. Elas se revelam naturalmente nas atitudes. O caso do advogado baiano João Neto, preso por agredir brutalmente sua namorada, reforçou minha convicção de que, mesmo sem base acadêmica, essa tese é um cruel retrato do terror vivido por muitas mulheres diariamente — inclusive na presença de outros homens, que, covardemente, nada fazem para impedir. 5f3t5m

João Neto, influenciador com mais de 2 milhões de seguidores nas redes sociais, ora pregava discursos de ódio, ora falava de amor, refletindo a realidade de uma sociedade doente, violenta e profundamente desacreditada. Assim como ele, há milhões de homens no Brasil com o mesmo perfil: agressores que se escondem atrás de máscaras de bom comportamento.

A vítima agredida deu entrada em um hospital de Maceió com ferimentos graves no queixo. O advogado foi localizado pela polícia enquanto pilotava uma motocicleta na contramão da capital alagoana. João Neto, que se autoproclamava ex-policial e afirmava ter matado dezenas de pessoas — inclusive um adolescente de 16 anos —, revelou-se apenas mais um mentiroso das redes sociais, lucrando com a disseminação de ódio disfarçado de amor.

O mais revoltante é que João Neto deu sinais claros de seu comportamento violento. Sua postura controladora, suas falas agressivas em entrevistas e podcasts, tudo isso estava evidente. Ainda assim, reuniu milhares de seguidores que compartilham do mesmo perfil tóxico. A tentativa de anular a parceira era explícita — mas, como tantas vezes acontece, só foi levada a sério quando as marcas físicas da violência se tornaram impossíveis de esconder.

As agressões foram registradas por câmeras de segurança do hall do prédio. Nas imagens, vê-se um homem com características semelhantes às de João Neto pressionando um ferimento no queixo da vítima e ordenando que outra pessoa lime o sangue do chão. Frieza e cálculo definem seu comportamento — mesmo diante da mulher a quem ele fazia públicas juras de amor.

Após audiência de custódia, a Justiça determinou a prisão preventiva de João Neto. Ainda assim, casos como esse não intimidam a maioria dos agressores, pois vivem em uma sociedade que trata a violência contra a mulher com leniência e normaliza a objetificação feminina.

A trajetória de João Neto nas redes sociais, recheada de memes, bordões e discursos populistas, rendeu-lhe notoriedade nacional. Após sua prisão, a Polícia Militar da Bahia desmentiu publicamente suas alegações de ter pertencido à corporação, afirmando que ele foi desligado ainda na fase de formação. Em entrevista ao portal Migalhas, em fevereiro de 2024, João Neto afirmou que decidiu cursar Direito aos 13 anos, após ser vítima de racismo por seguranças das Lojas Americanas. Fica difícil, no entanto, distinguir verdade de ficção em seu histórico.

“Já ei fome, fui despejado, fui desempregado, convidado a roubar. Mas optei por estudar, e foi a melhor escolha. Quando você tem conhecimento, portas se abrem”, disse na ocasião, buscando conquistar a simpatia de um público que valoriza histórias de superação, mas muitas vezes é enganado por narrativas oportunistas.

No Instagram, onde se apresenta como advogado criminalista, ex-policial e mestre em Ciências Criminais, ele também promovia a plataforma “Pix do Milhão”, que prometia prêmios em sorteios online. Mais um exemplo do tipo de “fenômeno” que a internet brasileira fabrica: gente que enriquece vendendo mentiras e violência disfarçadas de empatia.

Polêmico, João Neto agradava parte da direita bolsonarista, ao mesmo tempo em que criticava figuras como o presidente Lula, referindo-se a ele como “nove dedos”. Em outra ocasião, elogiou o ministro Alexandre de Moraes, mostrando que sabia adaptar o discurso para agradar diferentes públicos.

O comportamento de João Neto é a síntese de um problema maior: ele conhece a Justiça brasileira, sabe da impunidade generalizada e entende que a omissão dos que assistem calados é tão grave quanto o próprio ato violento. Uma mulher não pode ser espancada sob olhares inertes — isso é cumplicidade.

Infelizmente, essa omissão é comum no Brasil. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), em 2023, uma mulher foi vítima de violência doméstica a cada dois minutos no país. Houve mais de 2.300 casos de feminicídio apenas em 2023 — um aumento de 7% em relação ao ano anterior. Esses dados mostram que a violência de gênero é uma epidemia silenciosa, que cresce sob o silêncio cúmplice da sociedade.

Em alguns casos, a Justiça ainda agrava o cenário. No Maranhão, por exemplo, em novembro de 2017, Lúcio André Genésio, filho de um ex-deputado e irmão do ex-prefeito de Pinheiro-MA, foi preso após agredir a ex-esposa advogada Ludmila Rosa Ribeiro da Silvas, e beneficiou de um habeas corpus concedido por um desembargador maranhense, o que lhe permitiu inclusive deixar a cadeia e se mudar para São Paulo.

Como bem apontou a Advogada de Família, Fabiana Stival — principal fonte de inspiração deste artigo —, a OAB deve agir com firmeza e cumprir o que determina a Súmula 09/2019: que profissionais envolvidos em atos de violência contra a mulher sejam excluídos de seus quadros como medida mínima de preservação da dignidade da advocacia.

Fabiana Stival foi categórica em seu texto publicado nas redes sociais [Clique AQUI]: a questão não é apenas punir; é assumir responsabilidade. A advocacia não pode ser refúgio para quem promove a violência.

Enquanto o silêncio persistir, a violência contra a mulher continuará sendo um crime cotidiano e impune no Brasil.

Por João Filho – Jornalista, Radialista e Pesquisador. Veja o texto Fabiana Stival na íntegra clicando AQUI…

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