Em sua página do Facebook, Poubel se diz “defensor dos valores da família”, mas foi acusado pela ex-mulher por agredir a ex-sogra com um soco na cabeça. Ele negou acusação e, acredite se quiser, alegou ter sido tudo uma “armação do PT”. O seu irmão, Glauber Poubel, é um policial militar que já tentou uma vaga de vereador em São Gonçalo em 2016. No ano ado, Glauber foi preso por participar de uma quadrilha que extorquia pessoas de baixa renda. O policial fazia empréstimo e depois cobrava juros abusivos. Segundo o delegado responsável pelo caso, “centenas de pessoas, em vários municípios do estado, foram vítimas dessa organização criminosa. Alguns dos agiotas se identificavam como Inspetores de polícia e policiais civis lotados na Corregedoria.”

Além da cobrança de juros abusivos, os integrantes da quadrilha intimidavam seus “clientes” e familiares ameaçando enviar “cobradores de rua” em suas casas se não pagassem. Até parece um método de milícia, não é verdade? A prisão de Glauber Poubel fez Jair Bolsonaro e seu irmão perderem um cabo eleitoral, já que ele militava nas ruas para os dois.

Esse é o background político do youtuber Gabriel Monteiro. É claro que há um projeto político por trás dele. São essas as suas referências e dá pra ter uma ideia de que tipo de político ele pode ser. É da mesma linhagem de Carlos Jordy, Daniel Silveira, Rodrigo Amorim, Flávio Bolsonaro e outros que se elegem com um discurso conservador, violento e alinhado com a banda, digamos assim, menos republicana dos militares. Gabriel tem ganhado bastante visibilidade e já conta com mais de 1 milhão de seguidores em suas redes sociais. As suas pretensões políticas são claras e certamente ele poderá contar mais uma vez com o apoio do governo Witzel e dos políticos ligados à família Bolsonaro.

Em um texto publicado pelo Intercept no mês de agosto de 2019, um bombeiro carioca fez críticas à proposta de reforma do Código de Trânsito apresentada pelo governo de Jair Bolsonaro. Ele apontava o inevitável aumento de acidentes que viria como consequência do fim da multa para quem transportar crianças sem cadeirinha e a dispensa de autoescola para motoristas.

A crítica foi bastante equilibrada, sem nenhum ataque ao presidente ou ao governo, e compartilhava das mesmas constatações óbvias feitas por qualquer especialista em segurança de trânsito. Mesmo assim, a corregedoria dos bombeiros do Rio de Janeiro considerou o texto uma transgressão grave e o condenou a cinco dias de prisão.

A promiscuidade entre policiais militares e políticos é um dos traços mais assustadores do bolsonarismo. É capaz de produzir aberrações como a prisão de um bombeiro que criticou educadamente uma reforma no trânsito que deve causar mortes e a absolvição de um youtuber violento que milita em defesa das políticas públicas de quem está no poder. O recado para os militares é claro: só pode se expressar politicamente quem estiver alinhado ao bolsonarismo.